quinta-feira, 18 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sinhô: o primeiro Rei do Samba

José Barbosa da Silva carregava a alcunha de Sinhô, era conhecido como o “Rei do samba” e foi, sem dúvida, o mais famoso e popular compositor de samba das primeiras décadas do século XX.

O compositor foi um dos primeiros músicos brasileiros a ter uma visão comercial e mais profissional da carreira musical. Dentro dessa visão, foi provavelmente o primeiro a exigir, formalmente, o reconhecimento de sua autoria, com sua assinatura nos discos e um carimbo nas partituras de suas canções. Praticava um tipo rudimentar de jabá, pagando músicos de baile para tocar seus sambas e chegou a formar um grupo de instrumentistas para divulgar pela cidade suas músicas no período pré-carnavalesco.

Sinhô tinha trânsito livre nas camadas mais simples e também nos salões da elite e da intelectualidade carioca. Sabia da importância da aceitação da classe “formadora de opinião” para consolidação do ritmo recém-criado.

O sambista era reconhecidamente um artista muito vaidoso, característica que gerou polêmicas em sua carreira. Alguns dos compositores com quem polemizou foram: Pixinguinha, Hilário Jovino e Heitor dos Prazeres.

A polêmica com Heitor gerou umas de suas declarações mais famosas. Heitor acusou Sinhô de ter plagiado as músicas ‘Ora vejam só’, ‘Gosto que me enrosco’ e ‘Dor de cabeça’ e em resposta compôs ‘O rei dos meus sambas’, que diz assim: “Eu lhe direi com franqueza/ tu demonstras fraqueza/ tenho razão de viver descontente/ és conhecido por bamba/ sendo o rei dos meus sambas”.

Em resposta, Sinhô deu uma declaração que diz muito sobre o modo de compor samba no início do gênero e  que entrou para a história de MPB: “Samba é como passarinho: é de quem pegar.”

Segue foto do compositor e clipe, retirado do Youtube, onde Zeca Pagodinho canta Jura, um dos sucessos de Sinhô.


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Como nasce um samba: Renascer das Cinzas

Após um ano em que a Vila Isabel fez um péssimo desfile e caiu para o 2º grupo, Martinho da Vila e outros integrantes da escola foram ter com o então governador Chagas Freitas.

O intuito do encontro era convencê-lo a manter a Vila na elite das escolas de samba e o argumento utilizado era que em Vila Isabel o político tinha muitos votos. Motivos apresentados e, após ouvirem do próprio Governador que o desfile fora mesmo muito ruim, armou-se uma virada de mesa e, naquele ano, nenhuma escola caiu.

Fato é que, no bairro de Noel, muita gente não gostou da história e preferia que a Vila voltasse para o 1º grupo por seus próprios méritos.

No ano seguinte, os ensaios começaram, contudo o clima de desanimo ainda reinava em Vila Isabel e o povo não queria saber de participar. A lembrança do fiasco no carnaval anterior deixava a quadra vazia.

Vendo essa situação, Martinho resolveu organizar um grito de carnaval com feijoada e compôs um samba para alegrar a comunidade. Para o compositor, a Vila tinha morrido e era preciso “renascer das cinzas”.

O samba foi lançado na quadra, onde o povo cantava e chorava de emoção ao ouvir a canção sendo cantada pela primeira vez. A partir daí, as pessoas voltaram a participar e tudo voltou ao normal em Vila Isabel.

Abaixo, o áudio (retirado do youtube) de Renascer das cinzas, música de Martinho da Vila lançada no clássico álbum CANTA CANTA MINHA GENTE de 1974.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Didi: o advogado sambista

O Dr. Gustavo Baeta Neves era formado em Direito, Procurador da República e advogado de grandes empresas. Já nas rodas de samba, era conhecido como Didi, um dos maiores e mais vitoriosos compositores de samba-enredo de todos os tempos.

Didi cresceu na Ilha do Governador e ganhou seu primeiro samba em 1955, quando tinha apenas 18 anos. Nessa época a União da Ilha ainda desfilava em seu bairro de origem.

Para a escola da Ilha do Governador, compôs sambas memoráveis, que fazem parte de qualquer antologia do gênero, como: O amanhã (1978), O que será (1979), É hoje (1982) e Um herói, uma canção, um enredo (1985). Também foi bem sucedido no Salgueiro, onde ganhou duas disputas de samba, na segunda metade da década de 60. Uma curiosidade é que os sambas ganhos na escola da Tijuca não foram assinados para não prejudicar a imagem de Didi no meio jurídico.

No ano de 1991, recebeu a maior homenagem que um sambista pode receber, foi tema do desfile de sua escola do coração. A União da Ilha contou na avenida a história do compositor que se dividia entre a vida boêmia e a formalidade do Poder Judiciário. O enredo De bar em bar: Didi um poeta empolgou a Sapucaí e prestou justa homenagem a um dos grandes compositores do carnaval brasileiro.

O samba, até hoje muito cantado nas rodas de samba, é de autoria de Franco e foi interpretado pelo grande Aroldo Melodia.

No vídeo, imagens raras da extinta TV Manchete.



domingo, 21 de março de 2010

O dia em que a Portela se zangou com Paulinho da Viola

A Velha guarda da Portela costuma saudar seu padrinho Paulinho da Viola em suas apresentações com um samba que diz “Antigamente era Paulo da Portela, agora é Paulinho da Viola”. São versos que comparam Paulinho ao principal baluarte da Escola de Oswaldo Cruz, dando a dimensão da importância de Paulinho para a Portela.

Porém, em pelo menos uma ocasião, o clima ficou estranho entre Paulinho da Viola e sua escola de coração. Ocorreu que o compositor e poeta Hermínio Bello de Carvalho apresentou a Paulinho uma poesia que havia feito em homenagem à Mangueira e pediu ao amigo que musicasse. Melodia posta, a letra de Hermínio aliada à música de Paulinho resultou no belíssimo samba “Sei lá, Mangueira”, até hoje uma das maiores declarações de amor à Verde e Rosa.

O Samba tornou-se rapidamente conhecido e causou ciúme entre os portelenses. Como é que um ilustre compositor da Portela era capaz de fazer um samba tão bonito em homenagem à outra escola?

Paulinho da Viola viu-se então, na obrigação de fazer uma canção em homenagem à Portela para redimir-se. Começava a surgir aí outro clássico do gênero. O compositor conta no documentário “Meu tempo é hoje” que, quando criança, costumava assistir aos desfiles na Avenida Rio Branco. Foi a lembrança de um deles, em que a Portela invadiu a avenida com seu azul ao som da população que gritava “Portela, Portela... já ganhou!”, que inspirou-lhe a compor, tempos mais tarde “Foi um rio que passou em minha vida”, um dos sambas mais importantes da história da Portela e que serviu para acabar de vez com a polêmica.

No mesmo filme, o compositor narra a emoção de ver este samba sendo cantado pela primeira vez na avenida. No ano de 1970, Natal (presidente da Escola à época) pediu que “Foi um rio que passou em minha vida” fosse cantado antes do início do desfile. O samba foi acompanhado em coro pela multidão emocionada. Logo depois, a Portela desfilou com seu samba-enredo oficial daquele ano, porém, antes mesmo do desfile acabar, as primeiras alas voltaram a cantar o samba de Paulinho e foram até a Central do Brasil ao som de “Foi um rio que passou em minha vida”.

Quem saiu ganhando neste episódio foi sem dúvida o samba, que ganhou dois de seus maiores clássicos.

Sei lá, Mangueira. (Hermínio Bello de Carvalho/ Paulinho da Viola)

Foi um rio que passou em minha vida. (Paulinho da Viola)



quarta-feira, 17 de março de 2010

A baiana Mariene

Muito se fala na tal “nova geração do samba” e de sua relevância. Debates e mais debates são iniciados em todo tipo de mídia para discutir quem são os novos sambistas, qual a relevância desses novos artistas e para onde o samba está indo. E, apesar e com a contribuição desse tipo de discussão, o samba vai seguindo seu caminho, mantendo suas tradições e, simultaneamente, renovando-se. O samba não precisa de grandes rupturas e revoluções, escreve sua história na cadência de uma boa batucada.
Nesse contexto, certamente um dos nomes mais importantes dos novos artistas de samba é o da cantora baiana Mariene de Castro. A cantora vem fazendo, sem alarde, um trabalho de valorização e popularização do que há de mais importante na cultura popular, sobretudo no tradicional Samba de Roda da Bahia.

Mariene não é nenhuma novata, tem 15 anos de carreira, muitos shows, prêmios recebidos e um CD gravado. Seu excelente repertório inclui canções de tradicionais compositores baianos como Roque Ferreira (Abre Caminho e Vi mamãe na areia) e Walmir Lima (Ilha de Maré), sambas de roda do Recôncavo Baiano, Ijexás, Cocos, Cirandas e tudo mais relacionado à cultura popular.

A cantora já fez shows no exterior e em várias cidades do Brasil e participou dos DVDs de Daniela Mercury , Beth Carvalho e Samba Social Clube vol3. Porém seu trabalho mais especial é o Projeto Santo de Casa, um show semanal que já passou por vários espaços da cidade de Salvador e que atualmente é realizado no Espaço Cultural Barroquinha (uma antiga Igreja próxima ao Centro Histórico). No projeto, a cantora canta seu repertório acompanhada de uma excelente banda(pode-se ouvir a sonoridade de instrumentos tradicionais como atabaques, violas, berimbaus e acordeon), recebe convidados da música, das artes plásticas, exibe documentários, etc. Um mergulho na autêntica cultura popular.

Sua interpretação é carregada de emoção e está no mesmo nível das maiores cantoras da história do samba. Existe um DVD gravado ao vivo no Projeto Santo de Casa pronto para ser lançado.

Abaixo, o clipe de Abre Caminho (Roque Ferreira/ J. Veloso/ Mariene de Castro), gravado nas duas Festas de Largo mais importantes de Salvador, a Lavagem do Bonfim e a Festa de Iemanjá. Além disso, a versão ao vivo da mesma música e de Ilha de Maré (Walmir Lima/ Lupa), gravadas no Projeto Santo de Casa.



sábado, 13 de março de 2010

O samba como crônica (e uma pequena provocação aos puristas de plantão)

Segundo o dicionário Larrousse da Língua Portuguesa, uma crônica pode ser definida como um texto publicado sobre fatos reais ou imaginários da atualidade e como um gênero literário onde os fatos são apenas narrados, conservando-se sua ordem cronológica. Ou seja, uma crônica funciona como uma fotografia da realidade, um recorte dos fatos e acontecimentos do cotidiano.

O samba sempre foi um grande instrumento de representação da realidade. Através de uma pesquisa das letras de samba é possível compreender a história, os costumes e o jeito de ser do povo brasileiro ao longo do tempo.

Exemplos não faltam para confirmar: podemos citar a descrição do típico malandro da primeira metade do século passado feita por Wilson Batista (que passa gingando, provoca e desafia), a vida do Pequeno Burguês de Martinho da Vila que sofre para conciliar o trabalho e as responsabilidades de chefe de família com sua faculdade particular (aquela do diretor careca), o candidato Caô Caô cantado por Bezerra da Silva que subia o morro sem gravata, dizendo que gostava da massa, tomava cachaça e outras coisas mais, só para conseguir os votos da comunidade e, por fim, os tempos de hiperinflação cantados por Beth Carvalho onde um saco de dinheiro comprava apenas um quilo de feijão.

Ao pensar em uma música atual que tivesse esse perfil de crônica, lembrei-me imediatamente de Polícia e Bandido, samba-rap composto por Arlindo Cruz, Franco e Acyr Marques e cantado por Marcelo D2 e Leandro Sapucahy.

Apesar de receberem críticas severas de uma parte dos sambistas mais puristas: o primeiro (Marcelo D2) por não ser um “sambista autêntico” e ter influências de Rock, Hardcore e Rap e o segundo (Leandro Sapucahy), por ter iniciado sua carreira tocando e produzindo grupos de pagode brega como BokaLoka e Desejos, o fato é que o assunto aqui não é o valor artístico dos cantores e sim, a análise da importância do samba como crônica.

Neste quesito, “Polícia e Bandido” é um relato preciso de uma das tristes faces da realidade brasileira atual: a violência urbana e o cotidiano de quem convive diretamente com ela. A música lançou Leandro em carreira solo, tocou nas rádios de várias partes do Brasil e fez parte da trilha sonora do filme Tropa de Elite

Às vezes, uma canção nos faz compreender a realidade com mais intensidade do que a leitura do jornal diário. Às vezes, um samba nos faz pensar mais do que uma edição do Jornal Nacional.

Música: Polícia e Bandido ( Arlindo Cruz/ Franco/ Acyr Marques)

Intérpretes: Marcelo D2 e Leandro Sapucahy

quarta-feira, 3 de março de 2010

A História da Mulher de Verdade

O samba Ai, que saudades da Amélia, grande sucesso dos compositores Mário Lago e Ataulfo Alves, quase deixou de ser uma parceria. Isso porque Mário Lago ficou muito irritado quando Ataulfo cantou-lhe a música já pronta. Mário disse que o samba não era dele, pois o resultado final tinha muito pouco dos versos originais entregues a Ataulfo. O parceiro modificara tudo.

No entanto, Ataulfo Alves continuava acreditando na música e foi em busca de cantores para gravá-la. Surgiu aí mais uma dificuldade, pois os cantores procurados se recusaram a gravar “Amélia”. Foram procurados e recusaram: Cyro Monteiro, Carlos Galhardo, Orlando Silva e Moreira da Silva. Este último, chamou a composição de marcha fúnebre por conta de seu ritmo diferente dos sambas da época.

Diante das recusas e apesar da pouca experiência em gravações (só havia gravado duas músicas), Ataulfo entrou em estúdio no dia 27 de Novembro de 1941, acompanhado de Jacob do Bandolim e das vozes das pastoras e gravou Ai, que saudades da Amélia.

O samba é um dos maiores clássicos do gênero e foi consagrado no carnaval de 1942. Um dos pontos altos dessa consagração ocorreu no concurso de músicas carnavalescas, ocorrido naquele ano, no estádio do Fluminense Futebol Clube. Nesta ocasião o samba de Ataulfo e Mário Lago enfrentou, além de outras músicas, o clássico Praça Onze, parceria de Herivelto Martins e Grande Otelo que também já estava na boca do povo e teve uma grandiosa apresentação chefiada por Herivelto, com direito até a uma escola de samba no palco. Porém Ataulfo subiu ao palco e acompanhado de sua “ Academia do Samba” arrebatou a platéia tanto quanto Praça Onze. A solução encontrada pela diretoria do clube foi dobrar o prêmio e declarar o empate.

Uma curiosidade é que a personagem tema do samba de fato existiu. Amélia era uma antiga empregada da cantora Araci de Almeida e de seu irmão, o baterista Almeidinha. O baterista interrompia qualquer conversa em que o tema fosse mulher para falar da empregada. “Ah! A Amélia! Aquilo sim é que era mulher! Lavava, passava, engomava, cozinhava, apanhava e não reclamava.”

Ataulfo Alves é citado em diversos livros sobre MPB e samba, porém uma dica para quem desejar saber mais sobre a trajetória do sambista é a biografia lançada em 2009 por Sérgio Cabral; Ataulfo Alves vida e obra.

No vídeo de hoje, Ataulfo Alves Junior interpreta uma seleção de sucessos do pai: Atire a primeira pedra, Leva meu Samba e, claro, Ai, que saudades da Amélia. Disponível no Youtube.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Nelson Cavaquinho

Nelson Cavaquinho é um dos compositores mais importantes da história da MPB, sua poesia carregada de melancolia, produziu sambas imortais. Dor, ceticismo, morte e saudade são temas recorrentes em suas composições.

Para conseguir algum dinheiro, vendeu muitos de seus sambas. Teve muitos parceiros musicais, porém encontrou em Guilherme de Brito sua mais importante e definitiva parceria. São de Guilherme, por exemplo, os lindos e clássicos versos de "A flor e o espinho" que dizem: "Tire o seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor".

Nelson era um boêmio convicto, que nasceu no Rio de Janeiro em 1911. Conforme o sambista relata no programa MPB Especial seu pai alterou sua data de nascimento para 1910 com o objetivo de que Nelson entrasse para a polícia militar. Já na corporação, sua função era patrulhar os botecos dos morros cariocas, tarefa que cumpria com muito gosto, pois passava suas noites bebendo e conversando com os freqüentadores desses bares. Foi assim que o policial entrou, de uma vez por todas, para mundo do samba, ficando amigo dos sambistas Zé da Zilda, Cartola e Carlos Cachaça e virando freqüentador assíduo do Morro da Mangueira.

O então policial, costumava amarrar seu cavalo ao pé do morro e subir para passar as noites nas rodas de samba. Um dia, ao descer, não encontrou mais seu cavalo que havia se soltado e voltado sozinho para o quartel. Em 1938, finalmente, percebeu a incompatibilidade entre suas duas rotinas, pediu baixa da corporação e passou a viver apenas do samba. Além da polícia também tentou outras ocupações como bombeiro hidráulico e jogador de futebol.

Um fato curioso é que Nelson tinha o hábito de dedilhar o instrumento que o batizou utilizando apenas dois dedos. Já mais velho, substituiu em suas apresentações, o cavaquinho pelo violão.

Um pequeno vídeo, disponível no YouTube, onde Nelson canta Vou Partir.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Festa da Penha

No início do século XX, a Festa da Penha era a segunda principal festa popular do Rio de Janeiro, perdendo apenas para o carnaval.

A festa iniciou-se no fim do Século XVIII, era organizada pela colônia portuguesa em comemoração a Natividade de Nossa Senhora e acontecia nos fins de semana do mês de outubro. Apesar da origem católica e de manter seu caráter religioso, aos poucos, foi incorporando elementos da cultura afro-brasileira.

Além das missas e dos pagamentos de promessas dos fiéis católicos, a Festa da Penha foi dando espaço para os praticantes do candomblé, para as barracas de comida e bebida das famosas baianas da Cidade Nova (Tia Ciata entre elas), para as rodas de capoeira, de choro e, obviamente, para o samba. Tornando-se um dos principais pontos de encontro dos cariocas e um espaço de convívio de todas as classes sociais.

Os sambistas organizavam suas rodas em volta das barracas das tias baianas e, com o tempo, a festa foi se tornando um espaço de lançamento e afirmação de músicos e compositores. A Penha virou uma vitrine e, ao mesmo tempo, uma prévia do carnaval.

Concursos de música popular passaram a ser organizados para que novas músicas fossem lançadas e conhecidas pelo grande público. Um desses concursos gerou grande polêmica e rivalidade entre os compositores Caninha e Sinhô (dois dos pioneiros do samba). Sinhô, famoso por sua vaidade, não aceitou a derrota de sua música para a marcha “Me sinto mal” de Caninha. A rivalidade durou até a morte do “Rei do Samba”.

Outro célebre sambista, Heitor dos Prazeres, declarou o seguinte sobre a festa: “Naquele tempo não tinha rádio, a gente ia lançar música na Festa da Penha, a gente ficava tranqüilo quando a música era divulgada lá, que aí estava bem, que era o grande centro. Eu fiquei conhecido a partir da Festa da Penha.”

O final da década de 20 do século passado marca o término dos dias de glória desse importante evento popular.



Abaixo uma foto, tirada em 1912, que mostra o encontro de músicos e compositores na Festa da Penha. Uma curiosidade: na foto estão o violonista João Pernambuco, Patrício Teixeira, Pixinguinha e Caninha.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Rosa de Ouro

Quando a censura contra as peças de teatro, na década de 60, começou a apertar, uma saída encontrada pelas salas de espetáculo foi promover shows de música popular.

Em 1965, estreou no Teatro Jovem, em Botafogo, o musical Rosa de Ouro. Idealizado por Hermínio Bello de Carvalho e inspirado nas noites de samba que ocorriam no bar Zicartola.

O espetáculo tinha em seu elenco Aracy Cortes, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento, Anescarzinho do Salgueiro. Além dos estreantes Clementina de Jesus (descoberta por Hermínio na Taberna da Glória  aos 60 anos de idade) e o jovem Paulinho da Viola.

Em tempos de Bossa Nova, o Rosa de Ouro conseguiu arrebatar a imprensa e o público da Zona Sul Carioca, tendo em seu repertório sambas tradicionais e o clima das manifestações culturais da camada popular.

Uma curiosidade é que na última apresentação do espetáculo, coroando uma temporada de muito sucesso, diversos artistas invadiram o palco ao final do show para abraçar o elenco e também Hermínio Belo de Carvalho. Dentre os “artistas invasores” estavam os sambistas Ataulfo Alves e Carlos Cachaça.

No vídeo, um especial de Paulinho da Viola produzido pela TV Globo em 1980 onde o sambista convida integrantes do Rosa de Ouro para reviver alguns momentos do musical.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Um pandeiro como Habeas Corpus...

Esta história mostra um pouco da perseguição que os pioneiros do samba sofriam.

João da Baiana costumava andar com seu pandeiro, mostrando seus sambas pelo Rio de Janeiro e muitas vezes era detido, tinha seu instrumento confiscado e/ou quebrado pela polícia.

Certa vez, o músico foi convidado para tocar em uma festa na casa do poderoso Senador Pinheiro Machado, expoente político da época, e não compareceu.

Dias depois, o Senador quis saber o motivo da ausência e João da Baiana explicou que havia sido preso na Festa da Penha sob a única acusação de estar portando um pandeiro. Pinheiro Machado encomendou então um pandeiro novo para presentear o sambista com a seguinte dedicatória: a minha admiração João da Baiana- Senador Pinheiro Machado.

A partir daí, toda vez que João da Baiana era abordado pela polícia, mostrava o pandeiro assinado e, coincidência ou não, nunca mais foi incomodado.

O jornalista Sérgio Cabral conta em depoimento registrado no DVD comemorativo dos 40 anos de carreira de Beth Carvalho outra história que ilustra a relação entre a polícia e os pioneiros do samba. Quem contou-lhe a história foi Donga.

O sambista relatou que toda vez que um homem, geralmente negro, era detido pela polícia por vadiagem uma das primeiras providências tomadas era verificar se o homem possuía calos nas pontas dos dedos. Em caso afirmativo, concluía-se que o preso tocava violão. E aí, nas palavras de Donga, “era pior do que ser comunista”.

Abaixo, fotos dos grandes João da Baiana e Donga:


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O talento e o pioneirismo de Dona Ivone Lara

Dona Ivone Lara nasceu no dia 13 de Abril de 1921, em Botafogo no Rio de Janeiro. Filha de um casal apaixonado pela música, sua mãe cantava e seu pai tocava violão de 7 cordas nos ranchos carnavalescos da cidade. Os dois se conheceram no tradicional rancho Ameno Resedá.

Compôs seu primeiro samba aos 12 anos, porém só gravou o primeiro disco aos 56. Perdeu os pais muito cedo e por isso foi criada em um colégio interno exclusivo para moças. Foi durante a infância no internato que Dona Ivone estudou teoria musical e canto, sendo inclusive regida pelo maestro Villa Lobos em uma apresentação de coral. Aprendeu a tocar cavaquinho ainda criança com um tio.

Atuou como enfermeira e assistente social durante toda sua vida profissional, até a aposentadoria e, só então, dedicou-se exclusivamente à música.

Casou-se aos 26 anos com Oscar, filho do presidente da tradicional escola de samba Prazer da Serrinha. Era prima do ilustre Mestre Fuleiro e para vencer o preconceito e fazer seus primeiros sambas se tornarem conhecidos usou de uma curiosa estratégia. Pedia ao primo que cantasse e mostrasse as músicas nas rodas de samba do Morro da Serrinha como se fossem suas. Só depois de algum tempo e de muitas músicas popularizadas nas rodas de samba é que Mestre Fuleiro revelou que a verdadeira autora daqueles belos sambas era sua prima Ivone.

Foi a primeira mulher a fazer parte de uma ala de compositores em 1947, no Império Serrano e foi também a primeira mulher a compor um samba-enredo em 1965- o até hoje cantado “ Os cinco bailes da história do Rio”. O samba foi feito em parceria com Bacalhau e Silas de Oliveira. Conta a história que Dona Ivone foi visitar Silas de Oliveira e lá o encontrou com o parceiro Bacalhau tentando em vão finalizar o samba, pois já estavam um tanto alcoolizados. Ao ouvir o que já havia sido feito, Dona Ivone imediatamente completou o samba-enredo e entrou na parceria.

Teve seu primeiro sucesso nacional quando Maria Bethânia e Gal Costa gravaram a música Sonho meu, o ano era 1978. Entre seus muitos sucessos podemos citar: Alguém me avisou, Mas quem disse que eu te esqueço, Sorriso Negro, Tendência, Tiê e Nasci pra sonhar e cantar.

Com suas composições, seu canto e seus contracantos Dona Ivone é pioneira e unanimidade quando o assunto é samba.

Abaixo, dois momentos da grande dama do samba: no Programa Ensaio da TV Cultura e participando do DVD do Fundo de Quintal.