quinta-feira, 31 de março de 2011

As polêmicas do "compositor" Noite Ilustrada

O cantor Noite Ilustrada nasceu Mário Sousa Marques Filho em Pirapetinga, no dia 10 de abril de 1928. Seu nome artítico foi dado pelo comediante Zé Trindade, que comandava em Além Paraíba- MG a revista musical Noite Ilustrada, onde o jovem Mário começou tocando violão.

Além de violonista e intérprete renomado, Noite foi autor de alguns sambas e é exatamente seu lado compositor que o envolveu em algumas polêmicas durante sua carreira. Duas delas, envolvendo os dois maiores compositores do samba paulista, motivaram o texto de hoje.

A primeira polêmica envolveu Noite Ilustrada, Adoniran Barbosa e a música “Bom dia tristeza” (parceria de Adoniram e Vinícius de Moraes). Parceria intermediada e, depois de pronta, gravada com sucesso pela cantora Aracy de Almeida em 1957. Anos mais tarde, o cantor espalhou ser ele o verdadeiro autor da música. Noite Ilustrada afirmava que o próprio Adoniran havia pedido para compor a melodia para a letra de Vinícius e que ficou surpreso ao ver seu nome limado da parceria no disco de Aracy. Adoniran nunca polemizou nem se deu ao trabalho de responder as acusações. Certa feita, um programa de rádio que recebia o cantor, telefonou e colocou Adoniran no ar para falar sobre as acusações. O compositor, elegantemente, apenas declarou: “deixa isso pra lá”. Todos que conviveram com Adoniram Barbosa sequer cogitaram a possibilidade do compositor ter roubado a autoria de um samba.

A segunda envolveu Noite Ilustrada, seu maior sucesso e o grande Paulo Vanzolini. De acordo com Paulo, o cantor chegou a afirmar em um programa na Rádio Bandeirantes que era o verdadeiro autor de “Volta por cima”, enorme sucesso desde 1963 na voz de Noite. Para seu azar, dessa vez, o locutor do programa era o radialista Henrique Lobo, primo de Vanzolini, que acompanhou a composição da música e desmentiu a “revelação” no ar, durante o programa. Em 2002, ao regravar sua obra na caixa “Acerto de contas” pela Biscoito Fino, Vanzolini deixou de fora o mais famoso intérprete de “Volta por cima” e declarou sobre Noite Ilustrada: “Mário é um ótimo cantor, mas um tremendo de um mau-caráter.”

No vídeo, Noite ilustrada e seu maior sucesso, a famosa interpretação do samba de Paulo Vanzolini.

domingo, 20 de março de 2011

Como nasce um samba: Portela na avenida


Pedido de esposa não se nega e foi assim que esse clássico do samba nasceu. Clara Nunes, então esposa de Paulo César Pinheiro, encomendou ao marido um samba em homenagem a sua escola de coração.

Todos os membros da ala de compositores da Portela já haviam feito seu samba homenageando a agremiação. Acontece que depois de 1970, quando Paulinho da Viola compôs o hino “Foi um rio que passou em minha vida” a tarefa ficou difícil. Dez anos já haviam se passado sem que nenhum samba no mesmo nível fosse criado.

O mangueirense Paulo César Pinheiro aceitou a missão de criar um novo samba exaltando a azul e branco de Osvaldo Cruz. O compositor convidou o amigo Mauro Duarte para a parceria que se empolgou com a idéia e trouxe o primeiro esboço da música.

Dias se passavam e nada da inspiração chegar e fazer nascer o samba, P.C. Pinheiro estava prestes a desistir e deixar a composição pra depois.

Foi aí que, numa manhã em casa, Paulo se pôs a olhar para o cantinho de Clara, onde havia um altar que misturava os orixás do candomblé e os santos católicos. No centro, em destaque, havia uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.

Nesse momento, o compositor conta, tudo ficou claro, o que ele vinha buscando estava ali. A mistura do sagrado e do profano seria a tônica da música. O manto azul da santa era a escola e seus componentes entrando na avenida, a procissão do samba, a águia (símbolo da escola) seria a a pomba do Espírito Santo e o altar a Apoteose para onde se dirigiam os fiéis.

Paulo César Pinheiro atendeu o desejo de sua mulher e criou mais um clássico falando da Portela, sucesso absoluto na voz de Clara Nunes.

“Portela na Avenida” ao lado de “Foi um rio que passou em minha vida” são as duas músicas mais bonitas que exaltam a azul e branco. São os dois sambas utilizados para esquentar a escola na avenida antes do desfile oficial.