domingo, 29 de abril de 2012

A Rosa de Pixinguinha


Pausa na roda de samba para falarmos de uma das mais belas canções da História do Choro: a valsa Rosa do Mestre Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Um primor tanto na versão original, sem letra, quanto na versão mais conhecida com letra de Otávio de Souza. Além da beleza ímpar, a música possui algumas curiosidades. Vamos a elas.

Segundo o próprio autor, a valsa foi composta em 1917 e o título original era Evocação. Como manda a regra e a tradição do Chorinho, a música foi composta em três partes. Mais tarde, recebeu letra apenas para primeira e segunda partes e foi gravada e regravada muitas vezes dessa forma. Há alguns anos atrás, a versão original, em três partes e sem letra, foi regravada para o box Choro Carioca, Música do Brasil lançado pela gravadora Acari.

 A letra de Rosa é um capítulo à parte. Rebuscada, parnasiana e lindíssima foi composta pelo improvável Otávio de Souza. Otávio era um mecânico de profissão que morreu jovem e nunca compôs nada parecido com Rosa. Um compositor de uma única música, uma obra prima.

Conta a lenda que Otávio se aproximou de Pixinguinha enquanto o Mestre bebia em um bar do subúrbio carioca para falar que havia uma letra que não saía de sua cabeça toda vez que ouvia a valsa. Pixinguinha ouviu e ficou maravilhado.

A gravação do grande Orlando Silva foi a responsável pela popularização de Rosa, com erro de concordância e tudo no trecho "sândalos dolente". Francisco Alves e Carlos Galhardo deixaram de gravar Rosa por terem se recusado a gravar Carinhoso (coisas da MPB!). Outra curiosidade é que Rosa era a canção preferida da mãe de Orlando, Dona Balbina. Após sua morte, em 1968, Orlando  jamais voltou a cantar a canção.

Abaixo a gravação clássica de Orlando e a mais recente de Marisa Monte.

sábado, 7 de abril de 2012

Rodas de samba: Samba da Ouvidor

O último sábado, 31.03.2012, reservou-me uma grata experiência. Em visita ao Rio, para matar a saudade e carregar as baterias, consegui finalmente conhecer o Samba da Ouvidor.

A roda fica na esquina das ruas do Mercado e Ouvidor, coração do Rio Imperial e simpático ponto cultural atualmente, existe desde 2007 e é um dos 05 melhores sambas do Rio de Janeiro, me arrisco a afirmar.
Chegando ao Centro do Rio deparei-me com um fim de tarde maravilhoso, uma roda na calçada, rodeada por botequins da melhor qualidade. O escolhido para prover as geladas e petiscos foi o “Kamikase”.
O samba é brilhantemente comandado por Gabriel Cavalcante, seu cavaquinho certeiro e sua voz grave e potente, herança direta dos melhores seresteiros e boêmios que outrora cantaram por aquelas bandas. Gabriel da Muda, como também é conhecido, é tijucano, músico desde criança e fiel escudeiro do mestre Moacyr Luz no Samba do Trabalhador do Renascença e demais andanças pelo Brasil.
A base harmônica e rítmica é composta apenas por instrumentos tradicionais e o ponto alto da roda de samba é o repertório. Que repertório! Sem concessões, como dificilmente se vê por aí. Sambas antigos, alguns quase inéditos, de Mangueira e Portela se misturam a clássicos do gênero. Quando se canta Candeia, por exemplo, as escolhas fogem do óbvio e privilegiam canções menos famosas, porém igualmente belas.
O ambiente é tranquilo e familiar, formado por gente de todas as idades e tribos. Destaque para os músicos que frequentam e participam eventualmente. Luciana Rabello, a maior cavaquinista que esse País tem, estava lá.

Voltarei outras vezes e recomendo altamente.

Como é bom saber que existem lugares assim, onde o verdadeiro samba é cultuado e apreciado. O Samba da Ouvidor é prova viva que o verdadeiro samba é imortal.
Segue link para o blog dos caras e foto tirada no evento:
http://sambadaouvidor.blogspot.com.br/