sábado, 27 de fevereiro de 2010

Nelson Cavaquinho

Nelson Cavaquinho é um dos compositores mais importantes da história da MPB, sua poesia carregada de melancolia, produziu sambas imortais. Dor, ceticismo, morte e saudade são temas recorrentes em suas composições.

Para conseguir algum dinheiro, vendeu muitos de seus sambas. Teve muitos parceiros musicais, porém encontrou em Guilherme de Brito sua mais importante e definitiva parceria. São de Guilherme, por exemplo, os lindos e clássicos versos de "A flor e o espinho" que dizem: "Tire o seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor".

Nelson era um boêmio convicto, que nasceu no Rio de Janeiro em 1911. Conforme o sambista relata no programa MPB Especial seu pai alterou sua data de nascimento para 1910 com o objetivo de que Nelson entrasse para a polícia militar. Já na corporação, sua função era patrulhar os botecos dos morros cariocas, tarefa que cumpria com muito gosto, pois passava suas noites bebendo e conversando com os freqüentadores desses bares. Foi assim que o policial entrou, de uma vez por todas, para mundo do samba, ficando amigo dos sambistas Zé da Zilda, Cartola e Carlos Cachaça e virando freqüentador assíduo do Morro da Mangueira.

O então policial, costumava amarrar seu cavalo ao pé do morro e subir para passar as noites nas rodas de samba. Um dia, ao descer, não encontrou mais seu cavalo que havia se soltado e voltado sozinho para o quartel. Em 1938, finalmente, percebeu a incompatibilidade entre suas duas rotinas, pediu baixa da corporação e passou a viver apenas do samba. Além da polícia também tentou outras ocupações como bombeiro hidráulico e jogador de futebol.

Um fato curioso é que Nelson tinha o hábito de dedilhar o instrumento que o batizou utilizando apenas dois dedos. Já mais velho, substituiu em suas apresentações, o cavaquinho pelo violão.

Um pequeno vídeo, disponível no YouTube, onde Nelson canta Vou Partir.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Festa da Penha

No início do século XX, a Festa da Penha era a segunda principal festa popular do Rio de Janeiro, perdendo apenas para o carnaval.

A festa iniciou-se no fim do Século XVIII, era organizada pela colônia portuguesa em comemoração a Natividade de Nossa Senhora e acontecia nos fins de semana do mês de outubro. Apesar da origem católica e de manter seu caráter religioso, aos poucos, foi incorporando elementos da cultura afro-brasileira.

Além das missas e dos pagamentos de promessas dos fiéis católicos, a Festa da Penha foi dando espaço para os praticantes do candomblé, para as barracas de comida e bebida das famosas baianas da Cidade Nova (Tia Ciata entre elas), para as rodas de capoeira, de choro e, obviamente, para o samba. Tornando-se um dos principais pontos de encontro dos cariocas e um espaço de convívio de todas as classes sociais.

Os sambistas organizavam suas rodas em volta das barracas das tias baianas e, com o tempo, a festa foi se tornando um espaço de lançamento e afirmação de músicos e compositores. A Penha virou uma vitrine e, ao mesmo tempo, uma prévia do carnaval.

Concursos de música popular passaram a ser organizados para que novas músicas fossem lançadas e conhecidas pelo grande público. Um desses concursos gerou grande polêmica e rivalidade entre os compositores Caninha e Sinhô (dois dos pioneiros do samba). Sinhô, famoso por sua vaidade, não aceitou a derrota de sua música para a marcha “Me sinto mal” de Caninha. A rivalidade durou até a morte do “Rei do Samba”.

Outro célebre sambista, Heitor dos Prazeres, declarou o seguinte sobre a festa: “Naquele tempo não tinha rádio, a gente ia lançar música na Festa da Penha, a gente ficava tranqüilo quando a música era divulgada lá, que aí estava bem, que era o grande centro. Eu fiquei conhecido a partir da Festa da Penha.”

O final da década de 20 do século passado marca o término dos dias de glória desse importante evento popular.



Abaixo uma foto, tirada em 1912, que mostra o encontro de músicos e compositores na Festa da Penha. Uma curiosidade: na foto estão o violonista João Pernambuco, Patrício Teixeira, Pixinguinha e Caninha.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Rosa de Ouro

Quando a censura contra as peças de teatro, na década de 60, começou a apertar, uma saída encontrada pelas salas de espetáculo foi promover shows de música popular.

Em 1965, estreou no Teatro Jovem, em Botafogo, o musical Rosa de Ouro. Idealizado por Hermínio Bello de Carvalho e inspirado nas noites de samba que ocorriam no bar Zicartola.

O espetáculo tinha em seu elenco Aracy Cortes, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento, Anescarzinho do Salgueiro. Além dos estreantes Clementina de Jesus (descoberta por Hermínio na Taberna da Glória  aos 60 anos de idade) e o jovem Paulinho da Viola.

Em tempos de Bossa Nova, o Rosa de Ouro conseguiu arrebatar a imprensa e o público da Zona Sul Carioca, tendo em seu repertório sambas tradicionais e o clima das manifestações culturais da camada popular.

Uma curiosidade é que na última apresentação do espetáculo, coroando uma temporada de muito sucesso, diversos artistas invadiram o palco ao final do show para abraçar o elenco e também Hermínio Belo de Carvalho. Dentre os “artistas invasores” estavam os sambistas Ataulfo Alves e Carlos Cachaça.

No vídeo, um especial de Paulinho da Viola produzido pela TV Globo em 1980 onde o sambista convida integrantes do Rosa de Ouro para reviver alguns momentos do musical.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Um pandeiro como Habeas Corpus...

Esta história mostra um pouco da perseguição que os pioneiros do samba sofriam.

João da Baiana costumava andar com seu pandeiro, mostrando seus sambas pelo Rio de Janeiro e muitas vezes era detido, tinha seu instrumento confiscado e/ou quebrado pela polícia.

Certa vez, o músico foi convidado para tocar em uma festa na casa do poderoso Senador Pinheiro Machado, expoente político da época, e não compareceu.

Dias depois, o Senador quis saber o motivo da ausência e João da Baiana explicou que havia sido preso na Festa da Penha sob a única acusação de estar portando um pandeiro. Pinheiro Machado encomendou então um pandeiro novo para presentear o sambista com a seguinte dedicatória: a minha admiração João da Baiana- Senador Pinheiro Machado.

A partir daí, toda vez que João da Baiana era abordado pela polícia, mostrava o pandeiro assinado e, coincidência ou não, nunca mais foi incomodado.

O jornalista Sérgio Cabral conta em depoimento registrado no DVD comemorativo dos 40 anos de carreira de Beth Carvalho outra história que ilustra a relação entre a polícia e os pioneiros do samba. Quem contou-lhe a história foi Donga.

O sambista relatou que toda vez que um homem, geralmente negro, era detido pela polícia por vadiagem uma das primeiras providências tomadas era verificar se o homem possuía calos nas pontas dos dedos. Em caso afirmativo, concluía-se que o preso tocava violão. E aí, nas palavras de Donga, “era pior do que ser comunista”.

Abaixo, fotos dos grandes João da Baiana e Donga:


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O talento e o pioneirismo de Dona Ivone Lara

Dona Ivone Lara nasceu no dia 13 de Abril de 1921, em Botafogo no Rio de Janeiro. Filha de um casal apaixonado pela música, sua mãe cantava e seu pai tocava violão de 7 cordas nos ranchos carnavalescos da cidade. Os dois se conheceram no tradicional rancho Ameno Resedá.

Compôs seu primeiro samba aos 12 anos, porém só gravou o primeiro disco aos 56. Perdeu os pais muito cedo e por isso foi criada em um colégio interno exclusivo para moças. Foi durante a infância no internato que Dona Ivone estudou teoria musical e canto, sendo inclusive regida pelo maestro Villa Lobos em uma apresentação de coral. Aprendeu a tocar cavaquinho ainda criança com um tio.

Atuou como enfermeira e assistente social durante toda sua vida profissional, até a aposentadoria e, só então, dedicou-se exclusivamente à música.

Casou-se aos 26 anos com Oscar, filho do presidente da tradicional escola de samba Prazer da Serrinha. Era prima do ilustre Mestre Fuleiro e para vencer o preconceito e fazer seus primeiros sambas se tornarem conhecidos usou de uma curiosa estratégia. Pedia ao primo que cantasse e mostrasse as músicas nas rodas de samba do Morro da Serrinha como se fossem suas. Só depois de algum tempo e de muitas músicas popularizadas nas rodas de samba é que Mestre Fuleiro revelou que a verdadeira autora daqueles belos sambas era sua prima Ivone.

Foi a primeira mulher a fazer parte de uma ala de compositores em 1947, no Império Serrano e foi também a primeira mulher a compor um samba-enredo em 1965- o até hoje cantado “ Os cinco bailes da história do Rio”. O samba foi feito em parceria com Bacalhau e Silas de Oliveira. Conta a história que Dona Ivone foi visitar Silas de Oliveira e lá o encontrou com o parceiro Bacalhau tentando em vão finalizar o samba, pois já estavam um tanto alcoolizados. Ao ouvir o que já havia sido feito, Dona Ivone imediatamente completou o samba-enredo e entrou na parceria.

Teve seu primeiro sucesso nacional quando Maria Bethânia e Gal Costa gravaram a música Sonho meu, o ano era 1978. Entre seus muitos sucessos podemos citar: Alguém me avisou, Mas quem disse que eu te esqueço, Sorriso Negro, Tendência, Tiê e Nasci pra sonhar e cantar.

Com suas composições, seu canto e seus contracantos Dona Ivone é pioneira e unanimidade quando o assunto é samba.

Abaixo, dois momentos da grande dama do samba: no Programa Ensaio da TV Cultura e participando do DVD do Fundo de Quintal.