terça-feira, 1 de maio de 2012

O Sambista e o Trabalho


Viver dignamente e sustentar uma família a partir da música nunca foi tarefa fácil no Brasil. Poucos conseguiram. Para garantir o pão de cada dia, muitos dos maiores expoentes de nosso samba exerceram profissões tradicionais (ou nem tanto) durante a vida.

O Divino Cartola era servente de pedreiro quando adotou o chapéu coco em seu visual e ganhou o apelido que o consagrou. Já na velhice, foi redescoberto por Stanislaw Ponte Preta trabalhando como lavador de carros em uma garagem no Centro do Rio. Nelson Cavaquinho foi policial e conheceu a boemia patrulhando os morros cariocas. Mestre Candeia também e, nessa condição, foi parar em uma cadeira de rodas. Zeca Pagodinho foi apontador de jogo do bicho ou “corretor zoológico” como o próprio prefere nomear a profissão. O polivalente Ary Barroso foi um dos maiores radialistas do Brasil, além de locutor de futebol e político. Walter Alfaiate adotou como sobrenome a profissão de uma vida. O grande Wilson Moreira, vejam só, foi carcereiro até se aposentar. Dona Ivone Lara só se dedicou inteiramente ao samba após a aposentadoria de uma carreira dedicada à enfermagem e à assistência social. João Nogueira trabalhou na Caixa Econômica e Wanderlei Monteiro no Banco do Brasil. Martinho da Vila foi Sargento do Exército Brasileiro. Meu compositor Paulista preferido, Paulo Vanzolini, é zoólogo altamente renomado nos meios acadêmicos. O grande Moacyr Luz criou o Samba do Trabalhador, que lota o Clube Renascença no Andaraí nas tardes de segunda, e, bem antes disso, Martinho da Vila gravou o Samba do Trabalhador de Darcy da Mangueira que reproduzimos abaixo.

E tem gente que diz que sambista é vagabundo.

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