Viver dignamente e sustentar uma família
a partir da música nunca foi tarefa fácil no Brasil. Poucos conseguiram. Para
garantir o pão de cada dia, muitos dos maiores expoentes de nosso samba
exerceram profissões tradicionais (ou nem tanto) durante a vida.
O Divino Cartola era servente de pedreiro
quando adotou o chapéu coco em seu visual e ganhou o apelido que o consagrou.
Já na velhice, foi redescoberto por Stanislaw Ponte Preta trabalhando como
lavador de carros em uma garagem no Centro do Rio. Nelson Cavaquinho foi policial
e conheceu a boemia patrulhando os morros cariocas. Mestre Candeia também e,
nessa condição, foi parar em uma cadeira de rodas. Zeca Pagodinho foi apontador
de jogo do bicho ou “corretor zoológico” como o próprio prefere nomear a
profissão. O polivalente Ary Barroso foi um dos maiores radialistas do Brasil, além
de locutor de futebol e político. Walter Alfaiate adotou como sobrenome a
profissão de uma vida. O grande Wilson Moreira, vejam só, foi carcereiro até se
aposentar. Dona Ivone Lara só se dedicou inteiramente ao samba após a
aposentadoria de uma carreira dedicada à enfermagem e à assistência social.
João Nogueira trabalhou na Caixa Econômica e Wanderlei Monteiro no Banco do Brasil.
Martinho da Vila foi Sargento do Exército Brasileiro. Meu compositor Paulista
preferido, Paulo Vanzolini, é zoólogo altamente renomado nos meios acadêmicos.
O grande Moacyr Luz criou o Samba do Trabalhador, que lota o Clube Renascença no
Andaraí nas tardes de segunda, e, bem antes disso, Martinho da Vila gravou o
Samba do Trabalhador de Darcy da Mangueira que reproduzimos abaixo.
E tem gente que diz que sambista é
vagabundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário