O samba Ai, que saudades da Amélia, grande sucesso dos compositores Mário Lago e Ataulfo Alves, quase deixou de ser uma parceria. Isso porque Mário Lago ficou muito irritado quando Ataulfo cantou-lhe a música já pronta. Mário disse que o samba não era dele, pois o resultado final tinha muito pouco dos versos originais entregues a Ataulfo. O parceiro modificara tudo.
No entanto, Ataulfo Alves continuava acreditando na música e foi em busca de cantores para gravá-la. Surgiu aí mais uma dificuldade, pois os cantores procurados se recusaram a gravar “Amélia”. Foram procurados e recusaram: Cyro Monteiro, Carlos Galhardo, Orlando Silva e Moreira da Silva. Este último, chamou a composição de marcha fúnebre por conta de seu ritmo diferente dos sambas da época.
Diante das recusas e apesar da pouca experiência em gravações (só havia gravado duas músicas), Ataulfo entrou em estúdio no dia 27 de Novembro de 1941, acompanhado de Jacob do Bandolim e das vozes das pastoras e gravou Ai, que saudades da Amélia.
O samba é um dos maiores clássicos do gênero e foi consagrado no carnaval de 1942. Um dos pontos altos dessa consagração ocorreu no concurso de músicas carnavalescas, ocorrido naquele ano, no estádio do Fluminense Futebol Clube. Nesta ocasião o samba de Ataulfo e Mário Lago enfrentou, além de outras músicas, o clássico Praça Onze, parceria de Herivelto Martins e Grande Otelo que também já estava na boca do povo e teve uma grandiosa apresentação chefiada por Herivelto, com direito até a uma escola de samba no palco. Porém Ataulfo subiu ao palco e acompanhado de sua “ Academia do Samba” arrebatou a platéia tanto quanto Praça Onze. A solução encontrada pela diretoria do clube foi dobrar o prêmio e declarar o empate.
Uma curiosidade é que a personagem tema do samba de fato existiu. Amélia era uma antiga empregada da cantora Araci de Almeida e de seu irmão, o baterista Almeidinha. O baterista interrompia qualquer conversa em que o tema fosse mulher para falar da empregada. “Ah! A Amélia! Aquilo sim é que era mulher! Lavava, passava, engomava, cozinhava, apanhava e não reclamava.”
Ataulfo Alves é citado em diversos livros sobre MPB e samba, porém uma dica para quem desejar saber mais sobre a trajetória do sambista é a biografia lançada em 2009 por Sérgio Cabral; Ataulfo Alves vida e obra.
No vídeo de hoje, Ataulfo Alves Junior interpreta uma seleção de sucessos do pai: Atire a primeira pedra, Leva meu Samba e, claro, Ai, que saudades da Amélia. Disponível no Youtube.
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