João Nogueira e Paulo César Pinheiro eram grandes amigos, no samba e na vida. Houve uma época em que João começou a insistir para Paulo compor com ele um samba nos moldes dos que Paulo fazia com Baden Powell. Um samba cheio de malandragem, nas palavras de João Nogueira: “um samba de esculachar mulher que larga homem”, no estilo de “Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá) ” e “Falei e disse”.
Quem explica essa linhagem de samba é o próprio Paulo César Pinheiro: “esse tipo de samba é pra uma linha melódica determinada, não cabe em qualquer melodia, se não souber fazer fica vulgar. Mesmo esculhambando a madame, tem que ser fino e elegante. Tem que usar palavras incorporadas à fala criativa do malandro. A gíria tem que ser antiga, já incorporada ao Português. Se usar gíria nova, corre o riso de ficar datado se a gíria não pegar.”
João sempre tocava no assunto e vivia repetindo uma expressão que seria utilizada no samba “Eu heim, Rosa!”, mas mostrar música que é bom nada.
Certa segunda-feira, João vai até São Cristovão buscar Paulo César para uma noitada de samba no Teatro Opinião. Lá pelas tantas, Paulo resolve provocar o amigo dizendo que achava que João tinha perdido a inspiração, que estava muito devagar, pois já não conseguia fazer um simples samba.
Bastou à provocação para João Nogueira virar bicho e mandar Paulo ligar “a porra do gravador” que sempre levava consigo. João saiu cantando sem parar, o que passava em sua cabeça. A melodia do samba ficou pronta inteira, em minutos. Paulo nunca havia visto nada tão rápido.
Semanas depois, já com a letra pronta, Paulo César Pinheiro foi mostrar o resultado para João Nogueira. João não se lembrava de nenhuma frase que tinha feito e achou que era gozação. Paulo teve que mostrar a fita gravada para um estupefato João que, ao chegar ao final da audição, arrematou bem ao seu estilo: “Eu heim, Rosa!”
Segue o samba, um dos sucessos da dupla João Nogueira e Paulo César Pinheiro: